Reflexinhas (que reflexões pedem muito esforço)
Há dois tipos de pessoas — há dois tipos de texto: os que começam com “há dois tipos de” e os que começam de outro jeito... bem, há dois tipos de pessoas: as pessoas ao vivo e as pessoas por extenso. Uns falam, gesticulam, têm o tempo e o tom; outros escrevem a frase exata, pontuam que é uma beleza.
Fôssemos assim divididos, tudo bem. Mas inveja dá tanto prazer, que uns querem ser outros, e outros querem ser uns. Quem é ao vivo se confunde por extenso; quem é por extenso se constrange ao vivo. Vejam o Diogo Mainardi, coitado.
***
Há dois tipos de pessoas: as que gostam de distinções e as que não gostam de distinções.
***
Há dois tipos de pessoas que gostam de distinções: as que gostam de distinções em duas categorias e as que gostam de distinções completas. Gosto do primeiro tipo, é sempre bom esclarecer. Nada melhor para começar um post que uma bela distinção simplista; preconceituosa, então, nem se fale. Também se pode fazer um post contra distinções, mas esse lugar já foi ocupado.
***
O problema das classificações é sempre o classificador. Todo mundo já disse isso — e há quem tenha dito melhor, como é o caso do Greenaway. E Borges, gritam as crianças. No caso das Humanidades (há dois tipos de ciência...), sobretudo, essa filiação ao classificador é ainda mais decisiva, porque, no fundo, depende da arbitrariedade mais abstrata: o gosto por este ou por aquele número. Isso talvez explique a ausência de distinções em onze categorias. Quem gosta do onze, meu Deus?
***
Por falar em números (e posts), vocês estão lembrados das famosas pirâmides? Meu avô conta que, garoto, fazia isso com pares de sapatos: entrava no esquema com um par e convidava dois amigos a fazerem o mesmo; em pouco tempo, ganhava não sei quantos pares de sapato. É lógico que o mesmo se aplicava a figurinhas, revistas de HQ e, eliminando os intermediários, dinheiro. Em pouco tempo, alguém se ferrava. Lógico, havia sempre essa possibilidade, e quanto mais se difundia a pirâmide, menos pessoas disponíveis a participar eram encontradas.
Com os blogs, há-de ser a mesma coisa. O cara começa a navegar. Logo, logo, recebe a mensagem de um amigo que abriu um blog. O cara não liga; depois do terceiro e-mail insistente, resolve dar uma olhada e acha a coisa toda muito legal (ou é legal mesmo, às vezes acontece). Em vez de se tornar leitor assíduo, comentarista empolgado, ele resolve criar seu próprio blog. “Sabe como é, tanta coisa para falar... e é tão fácil.” Em poucas horas, lá está o cara mandando um e-mail pros amigos...
Quer dizer, estamos fadados a essa pirâmide obtusa. Quem vem depois lê quem veio antes, quando muito. E todo muito escrevendo o tempo inteiro.
***
Verborragia concisa, concisão verborrágica — eis o que praticamos, como já disse. Continuamos todos escrevendo muito, pouco. Post bom é post curto. Afinal, ninguém tem tanta paciência assim diante dessa tela insuportável. Se você chegou até aqui, é um caso raro; provavelmente, ainda não tem um blog.
Fôssemos assim divididos, tudo bem. Mas inveja dá tanto prazer, que uns querem ser outros, e outros querem ser uns. Quem é ao vivo se confunde por extenso; quem é por extenso se constrange ao vivo. Vejam o Diogo Mainardi, coitado.
***
Há dois tipos de pessoas: as que gostam de distinções e as que não gostam de distinções.
***
Há dois tipos de pessoas que gostam de distinções: as que gostam de distinções em duas categorias e as que gostam de distinções completas. Gosto do primeiro tipo, é sempre bom esclarecer. Nada melhor para começar um post que uma bela distinção simplista; preconceituosa, então, nem se fale. Também se pode fazer um post contra distinções, mas esse lugar já foi ocupado.
***
O problema das classificações é sempre o classificador. Todo mundo já disse isso — e há quem tenha dito melhor, como é o caso do Greenaway. E Borges, gritam as crianças. No caso das Humanidades (há dois tipos de ciência...), sobretudo, essa filiação ao classificador é ainda mais decisiva, porque, no fundo, depende da arbitrariedade mais abstrata: o gosto por este ou por aquele número. Isso talvez explique a ausência de distinções em onze categorias. Quem gosta do onze, meu Deus?
***
Por falar em números (e posts), vocês estão lembrados das famosas pirâmides? Meu avô conta que, garoto, fazia isso com pares de sapatos: entrava no esquema com um par e convidava dois amigos a fazerem o mesmo; em pouco tempo, ganhava não sei quantos pares de sapato. É lógico que o mesmo se aplicava a figurinhas, revistas de HQ e, eliminando os intermediários, dinheiro. Em pouco tempo, alguém se ferrava. Lógico, havia sempre essa possibilidade, e quanto mais se difundia a pirâmide, menos pessoas disponíveis a participar eram encontradas.
Com os blogs, há-de ser a mesma coisa. O cara começa a navegar. Logo, logo, recebe a mensagem de um amigo que abriu um blog. O cara não liga; depois do terceiro e-mail insistente, resolve dar uma olhada e acha a coisa toda muito legal (ou é legal mesmo, às vezes acontece). Em vez de se tornar leitor assíduo, comentarista empolgado, ele resolve criar seu próprio blog. “Sabe como é, tanta coisa para falar... e é tão fácil.” Em poucas horas, lá está o cara mandando um e-mail pros amigos...
Quer dizer, estamos fadados a essa pirâmide obtusa. Quem vem depois lê quem veio antes, quando muito. E todo muito escrevendo o tempo inteiro.
***
Verborragia concisa, concisão verborrágica — eis o que praticamos, como já disse. Continuamos todos escrevendo muito, pouco. Post bom é post curto. Afinal, ninguém tem tanta paciência assim diante dessa tela insuportável. Se você chegou até aqui, é um caso raro; provavelmente, ainda não tem um blog.
11 Comments:
Ou então tem um blog e não escreve nele, sempre uma possibilidade.
E o Diogo Mainardi, coitado, parece um covarde no Manhattan Connection.
Isso se cura, Manoela. No caso do Diogo Mainardi, é engraçado ver o cara tentar fazer provocações com tom de bonzinho. Aliás, o que mais depõe contra ele é isso: ser bonzinho.
E o classificador, como se classifica?
Me pergunto se o clasificador passaria a classificar em categorias (em quaisquer quantidades), os tipos de blogs. Teria os blogs originais, aqueles baseados nos originais, aqueles contra os originais, toda uma sorte de classificaçoes da catarse, seja original ou não, de alguém.
Não gosto de classificar, fico então no grupo daqueles que serão ou já foram classificados.
beijo
Pronto! Hoje resolvi escrever, mas guardo os meus melhores comentários para quando você escrever um post sobre mim. Vou te dar uma ajuda: "Eu amo minha namorada maravilhosa!"
Adoro a maneira como você escreve.
Beijos e abraços,
Sílvia.
Pronto! Hoje resolvi escrever, mas guardo os meus melhores comentários para quando você escrever um post sobre mim. Vou te dar uma ajuda: "Eu amo minha namorada maravilhosa!"
Adoro a maneira como você escreve.
Beijos e abraços,
Sílvia.
O ideal seria criar um espécie de Dogma 95 para os blogs brasileiros. Algo como uma opção coletiva pela contenção nos meios. Talvez assim se lesse menos banalidade e egotrip.
Maria Rita, há também duas espécies de blogueiros: os rudes e os que agem com gentileza, visitando e comentando blogs amigos... (já visitei, só falta o tempo merecido para o comentário cuidadoso).
David, quanto ao Dogma, conte comigo. Excelente idéia, e já sei até onde praticar. Mas e se o critério fosse exatamente o da egotrip?
Nada mal; seria a minha chance de escrever o post que a Sílvia — amada, amada — me pediu. Por você, tudo bem?
Beijo, abraço e amor, respectivamente.
Que tal restaurarem o haloscan? O novo projeto sai ou não sai?
Avante!
Rapaz, blog é coisa do passado. A única onda agora é flog, pq vc não precisa pensar nem o mínimo (e para escrever num blog vc tem que fazer um pequenino esforço e pensar um tico de nada). Nós, pessoas que ainda têm blogs, somos jurássicos e ultrapassados no mundo hype dos sucessos-relâmpago da internet.
Márcio Coelho
www.kpz.blogger.com.br
há três tipos de pessoas: as que sabem contar e as que não sabem
Alan, haloscan não volta. Vem coisa melhor. Já estamos a postos. Aguarde.
Márcio, boa idéia a do fotolog. Embora o Millôr já tenha alertado: “uma imagem vale mais do que mil palavras, mas vá dizer isso com imagens.”
Alexandre, o combinado é que o comentário não pode ficar melhor que o post. Que deselegância.
Abraços (e voltem sempre).
Postar um comentário
<< Home