março 07, 2005

O que Lobão e Ed Motta (não) têm em comum

Bem no comecinho de Manhattan, há aquela cena inesquecível em que os personagens de Diane Keaton e Michael Murphy conversam sobre artistas “overestimated”, sob o protesto frenético do Isaac de Woody Allen. Quando chegam a Bergman, ele quase tem um infarto.

A cena é engraçada e me veio à cabeça a propósito de duas entrevistas ouvidas recentemente. Uma com Ed Motta; outra com Lobão. Quem os ouve falar — e tem a sorte de não ouvi-los cantar — deve ter a impressão de que se trata de gênios da música, talentos cuja qualidade justifica qualquer arrogância. Um fala de suas incursões pelo jazz; outro, de seu “diálogo” com a MPB. Eles devem estar de sacanagem. É um descompasso tão grande entre auto-imagem e obra, que a piada se torna peça de mau gosto. Levar-se a sério tem dessas coisas.

3 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Peço desculpas Ed, mas não há como discoradar do Bruno, não desta vez. Aliás confesso que até gosto quando ele "pega pesado".
"Diálogo" com a MPB?! Personificação fajuta!
Além disso, há limites no conceito de auto-imagem: deve haver, ao menos, algum compromisso com a verossimilhança... e com o papel de ridículo!
Pernóstico por pernóstico eu prefiro Caetano!
Beijos, Nicole.

9:04 PM  
Blogger Marcelo Donati said...

Eita! Essa Nicole nadou na piscina da prolixidade... coitada, se afogou...
Seguinte, sobre o Ed Motta, só uma coisa precisa ser perguntada: alguns dos detratores aqui ja viu/ouviu ele alguma vez falar algo sendo arrogante, ou se proclamando o melhor de alguma coisa?
Ou será que vcs só atribuem este papel de 'mala' pela (grande) aparência dele? Ed é muito mais do que um cara musicalmente mágico, e simples ao ponto de trocar e-mails com fãs... Seus ídolos fazem isso? Não gostar da música dele ou de seus melismas é uma (triste) liberdade, mas criticar o cara sem saber do seu valor/importancia/simplicidade é chafurdar no 'mais do mesmo'...
Aproveitem e visitem nosso blog:
http://www.ed-motta.blogspot.com/

12:43 PM  
Anonymous Anônimo said...

É porque na sociedade do qualquergenero-universitário, rock-sertanejo e funk-proibidão qualquer tentativa de sofisticação é vista como arrogância.

Devíamos nos conformar em ser doce selvagens.

Quanto a Lobão: prolífico nos anos 80-90, e com qualidade de letra e música, sem falar na atitude que sobrou, tanto que pagou por isso.

Quanto Ed Motta: um operário musical com curiosidade jornalística, ética de trabalho exemplar e ainda por cima multi instrumentista, cantor e compositor. Emfim, um peixe fora d'água, obrigado a ler e ouvir bobagens como a desse blog. Não é questão de ser gênio ou não, isso é complexo de Pelé que brasileiro tem de ficar medindo a genialidade de cada ato alheio; é apenas questão de disciplina, trabalho, e muito talento mesmo!

1:24 PM  

Postar um comentário

<< Home