Homo Economicus Ethicus, as if
Os escândalos financeiros recentes no mundo corporativo americano (Enrom, WorldCom, Tyco) deram espaço a uma pergunta “despropositada”: e a ética desses caras, onde foi parar? Quem a faz não é o barbudinho da esquina, mas o ex-professor da LSE Sumantra Ghoshal, em artigo póstumo. Para ele, a raiz comum aos problemas está nos cursos de MBA, requisito de dez entre dez engravatados das grandes companhias.
Segundo Ghoshal, os MBAs se arrogam um status acadêmico discutível. Estudos de caso e modelos matemáticos não compõem base científica — afirma —, sobretudo porque dispensam a reflexão metodológica e resumem o mundo dos negócios a duas verdades simplistas: a soberania do homo economicus (utilitarista, racional, competitivo) e o objetivo único de maximização dos ganhos dos acionistas das grandes empresas.
Com o diploma na mão, a rapaziada recrutada pelas empresas se sentiria livre, do ponto de vista moral. E essa liberdade — mal lida em cursos de um ano ou dois — estaria se voltando contra as próprias corporações e os próprios businessmen. Daí os escândalos.
A Economist, é claro, dá seu recado. Além de excessiva, a crítica de Ghoshal desconsidera três pontos centrais: 1) nos escândalos citados, os executivos corruptos, em boa parte, não fizeram MBA; 2) a crença no homo economicus tem decaído em toda parte, até mesmo na Universidade de Chicago; 3) não se pode esperar aprofundamento científico de um tipo de curso cuja essência está na prática dos negócios. Para a revista, o problema é outro: corporações que valorizam esse diploma em demasia, como se a capacidade de liderança pudesse vir de conhecimentos despidos de maturidade e sabedoria — para os quais não há curso possível.
Ainda assim, adesões de pesos-pesados têm feito a onda do momento na discussão acadêmica no eixo EUA/Inglaterra. Não chegam a ser tsunamis, mas já limparam quintais: Harvard e Stanford aceitam parte das críticas e passam a incluir Ética como disciplina de seus MBAs. “Escolha” e “intenção” deixariam os dicionários para entrar na análise econômica dos administradores recém-formados.
No Brasil, a expansão MBAs só é comparável à de cursos universitários; o mesmo se pode dizer de sua qualidade, questionável na maior parte dos casos. Mas a discussão não deve pegar. Antes e fora da moda desse diploma, a corrupção nunca foi o ponto fora da curva; na maior parte das vezes, é a própria curva. Por aqui, reserva-se à Ética o bueiro da discussão dita “ideológica” — à direita e à esquerda —, como se isso a tornasse indigna.
Segundo Ghoshal, os MBAs se arrogam um status acadêmico discutível. Estudos de caso e modelos matemáticos não compõem base científica — afirma —, sobretudo porque dispensam a reflexão metodológica e resumem o mundo dos negócios a duas verdades simplistas: a soberania do homo economicus (utilitarista, racional, competitivo) e o objetivo único de maximização dos ganhos dos acionistas das grandes empresas.
Com o diploma na mão, a rapaziada recrutada pelas empresas se sentiria livre, do ponto de vista moral. E essa liberdade — mal lida em cursos de um ano ou dois — estaria se voltando contra as próprias corporações e os próprios businessmen. Daí os escândalos.
A Economist, é claro, dá seu recado. Além de excessiva, a crítica de Ghoshal desconsidera três pontos centrais: 1) nos escândalos citados, os executivos corruptos, em boa parte, não fizeram MBA; 2) a crença no homo economicus tem decaído em toda parte, até mesmo na Universidade de Chicago; 3) não se pode esperar aprofundamento científico de um tipo de curso cuja essência está na prática dos negócios. Para a revista, o problema é outro: corporações que valorizam esse diploma em demasia, como se a capacidade de liderança pudesse vir de conhecimentos despidos de maturidade e sabedoria — para os quais não há curso possível.
Ainda assim, adesões de pesos-pesados têm feito a onda do momento na discussão acadêmica no eixo EUA/Inglaterra. Não chegam a ser tsunamis, mas já limparam quintais: Harvard e Stanford aceitam parte das críticas e passam a incluir Ética como disciplina de seus MBAs. “Escolha” e “intenção” deixariam os dicionários para entrar na análise econômica dos administradores recém-formados.
No Brasil, a expansão MBAs só é comparável à de cursos universitários; o mesmo se pode dizer de sua qualidade, questionável na maior parte dos casos. Mas a discussão não deve pegar. Antes e fora da moda desse diploma, a corrupção nunca foi o ponto fora da curva; na maior parte das vezes, é a própria curva. Por aqui, reserva-se à Ética o bueiro da discussão dita “ideológica” — à direita e à esquerda —, como se isso a tornasse indigna.
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