fevereiro 25, 2005

O Millôr já fez a conta

É sempre uma questão de expectativa. Fosse Greenhalgh ou João Paulo, haveria gritaria ensurdecedora à simples menção da palavra ”aumento”. No que compete à opinião pública, indisposição generalizada, constrangimento e... gaveta. Como se trata de Severino, a quem o aumento nunca pareceu vergonhoso, a perplexidade não dura mais que duas semanas. Até lá, tudo estaria certo — se a estratégia fosse a do silêncio.

Mas Severino não se agüentou e colocou os argumentos na mesa:

— É evidente que a sociedade quer. Ela está aceitando. Não tem sido é bem esclarecido. Não existe essa coisa de posição contra. O que a sociedade não aceita é desonestidade, é roubalheira. E se existir isso dentro da Câmara, vou acabar.

A sociedade é abstrata; não vai ser ouvida pelos jornais ou pelo Congresso. Mesmo que o fosse, não serviria, pois não sabe o que fala. Nem de seus representantes se pode esperar grande coisa:

— Isso é um problema desses partidos que estão fazendo apenas demagogia. Eles estão doidos por esse aumento. Não vai perder (em plenário) que eu tenho certeza, porque demagogos têm poucos aqui na Câmara.

Subestimar o outro não tem sido boa estratégia: as palavras ferem mais do que o aumento. Se voltar a ficar quieto, tendo razão (ignorância e demagogia), é capaz de chegar aonde quer; não seria surpresa para ninguém. Articulistas em jornais só se fazem ouvir por quem os lê. Não parece ser o caso.

Como diz o Millôr, dividindo toda nossa indignação por todos os problemas do país, o percentual que sobra para cada um é muito pequeno.

3 Comments:

Anonymous Anônimo said...

No campo da retórica, é a banalização da virulência.

10:36 AM  
Blogger Bruno Rabin said...

Pois é, Nelson, coitado do Jabor; perdeu o que ainda tinha de (quase) exclusivo.

4:29 PM  
Blogger david butter said...

O Severino é o quintandeiro-mestre. Grita mais alto por exigência do métier.

2:26 AM  

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