Contos Sensoriais (I)
Quando era pequeno, tinha muito medo de me viciar em cocaína. Achava que o vício vinha do cheiro: um perfume tão gostoso, mas tão gostoso, que, uma vez experimentado, produzia no sujeito a vontade incontrolável de senti-lo o tempo todo. Deve ter sido alguma associação com o canto da sereia, possivelmente uma mistura de trechos de conversas de adultos, mal ouvidos pelo sono, à mesa de um restaurante. Talvez sem sono, mas certamente à mesa de um restaurante, impaciente com os cafés antes da conta. Aquele medo persistiu em mim por muito tempo. Não o da cocaína, mas o do vício; não o de um vício qualquer, mas o de um perfume delicioso.
Como o associava à causa errada, custei a perceber que já estava viciado. E que nunca mais conseguiria esquecê-la.
Como o associava à causa errada, custei a perceber que já estava viciado. E que nunca mais conseguiria esquecê-la.
2 Comments:
Sensoarialmente perfeito.
muito inspirado...especialmente inspirado
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