Escritor bom é escritor morto
O problema dos novos autores é serem novos autores, pois entre o início e o sucesso há uma jornada trabalhosíssima e constrangedora. “O caminho é o que importa”, dizem todos desde Heráclito. Importa nada. O caminho é o que atrapalha e acanha qualquer um.
Entre o primeiro texto e o primeiro prêmio, existe a conquista de leitores que interessam. E os leitores que interessam não têm tempo para os novos autores; estão lendo coisa melhor. Restam apenas os fascinados — “Cara, descobri um escritor novo que você precisa ler” —, aquelas pessoas que têm o orgulho curiosíssimo e jamais desvendado de ter conhecido antes seja o que for; situação que se aplica, antes de tudo, a bandas de rock — por aí já se vê o nível da coisa.
Depois vem a crítica. Para o sucesso (“nem tudo é vaidade, mas... você sabe...”), um artigo aqui, uma entrevista acolá, e de repente o autor novo está ali com aquela cara de idiota na página do caderno cultural. Como o jornalismo precisa de tese para se equiparar à academia — isso é que é disputa! —, inequivocamente lá estará também um “provocador”, ou “autêntico”, ou “uma narrativa que mescla suspense e análise psicológica com ecos proustianos”. O cara não leu Proust, mas — que diabo! —precisa garantir seu ganha-pão.
Quem é bom deveria encontrar uma ponte direta para o auge — ou para a decadência, que é muito mais charmosa. Isso evitaria constrangimentos. Como isso não é possível, o autor novo precisa se contentar com o alívio de ser escritor. Já pensou se tivesse nascido artista plástico?
Entre o primeiro texto e o primeiro prêmio, existe a conquista de leitores que interessam. E os leitores que interessam não têm tempo para os novos autores; estão lendo coisa melhor. Restam apenas os fascinados — “Cara, descobri um escritor novo que você precisa ler” —, aquelas pessoas que têm o orgulho curiosíssimo e jamais desvendado de ter conhecido antes seja o que for; situação que se aplica, antes de tudo, a bandas de rock — por aí já se vê o nível da coisa.
Depois vem a crítica. Para o sucesso (“nem tudo é vaidade, mas... você sabe...”), um artigo aqui, uma entrevista acolá, e de repente o autor novo está ali com aquela cara de idiota na página do caderno cultural. Como o jornalismo precisa de tese para se equiparar à academia — isso é que é disputa! —, inequivocamente lá estará também um “provocador”, ou “autêntico”, ou “uma narrativa que mescla suspense e análise psicológica com ecos proustianos”. O cara não leu Proust, mas — que diabo! —precisa garantir seu ganha-pão.
Quem é bom deveria encontrar uma ponte direta para o auge — ou para a decadência, que é muito mais charmosa. Isso evitaria constrangimentos. Como isso não é possível, o autor novo precisa se contentar com o alívio de ser escritor. Já pensou se tivesse nascido artista plástico?
4 Comments:
A maior característica do escritor novo você não citou: a eterna tentativa de fugir ao rótulo. Ele não é da geração 00, não pertence à geração pop, não está no grupo dos malditos (Clarah Averbuck, pessoal do Livros do Mal). Ele é "independente".
Gostei do texto. Discordo apenas com a comparação entre escritores novos / bandas novas.
Enquanto que, na literatura, a gente acaba não lendo os novos autores porque tem um monte de livros antigos bons que não se leu, no caso do rock, cuja "fruição" é mais fácil e rápida, o que acontece é que a gente (eu, pelo menos) enjoa de algumas bandas antigas que a gente amava, e fica querendo escutar as bandas novas, até para refutar para nós mesmos truísmos bobos como "o rock morreu" ou coisa que o valha.
Quase todas as bandas de rock que eu escuto são dos anos 90 pra cá. Adoro um monte de antigas (a partir dos 60), mas já ouvi demais... meu ouvido fica um pouco impaciente às vezes...
Manoela, essa é a briga de foice com o jornalista. Já imagino a cena: o crítico do JB ou da Folha correndo com um rótulo da mão atrás do autor novo, que foge em desespero...
Alexandre, obrigado. E obrigado pelo link. É sempre uma honra a sua presença.
Marcus, para falar a verdade, o post todo foi feito para eu falar mal de pessoas adoram dizer que descobriram bandas novas. A piadinha vale tudo, inclusive a incoerência, hehehe.
Beijo e abraços.
Um dos melhores. Muito bom.
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