“Um suco de garagem”
Há duas espécies de clichês: os ociosos e os negociosos. Dos primeiros precisamos e podemos até gostar, dada sua beleza vazia e pura. Dos últimos, queremos distância. Mas o Natal se aproxima e, com ele, o inevitável contato com os vendedores.
Na última passada num shopping — que Deus me proteja —, fiz uma descoberta assustadora. Que aquelas pessoas não pensam, eu já sabia. O que descobri foi que elas usam a mesma linguagem fora daquele ambiente. Fui ao banheiro e ouvi um vendedor falando ao celular:
— Olha, se você estiver cansado, não precisa ficar. Mas dê uma passadinha sem compromisso. Vai estar todo mundo lá. Se você quiser, posso falar com o dono da festa e reservar um convite, mas você precisa chegar cedo...
Senti pena dessas pessoas e fiquei imaginando o Nunes, vendedor profissional, em sua triste vida, misturando as linguagens das tantas lojas e setores em que trabalhou. Da concessionária de automóveis, levou algumas frases para a loja de sucos:
— Olha, o senhor precisa provar esse suco de goiaba. Tá novinho, novinho. Ele nunca foi oferecido pra outra pessoa. A goiaba veio de frete de Petrópolis, chegou agorinha mesmo. O senhor deu sorte. Eu não tava nem querendo oferecer esse suco, pensei em ficar com ele pra mim, mas o senhor é gente boa e eu percebi que tava querendo um suco bom, de qualidade, um suco sem problema, um suco de garagem...
Coitado, às vezes escorregava e misturava tudo. Uma vez, logo após deixar aquela loja de roupas num shopping, foi parar numa Pet Shop:
— Esse gatinho tá lindo mesmo. Tá saindo muito. A senhora não quer experimentar um? Isso, coloque assim no colo.. Perfeito! Olha, ficou muito bem na senhora. Parece até que foi feito sob encomenda. Uma graça. A senhora fica realmente muito bem de gato.
Mas o pior aconteceu em casa, com a esposa e os filhos. De tanto tratá-los como clientes, um dia, após uma tentativa frustrada de convencê-los a ficar em casa em vez de ir para o jantar de Natal na sogra, acabou ouvindo da mulher a seguinte resposta:
— Pode ser, vou pensar. Eu vou dar uma voltinha, para pesquisar um pouco, mas já, já estou de volta...
Ela nunca mais apareceu.
Na última passada num shopping — que Deus me proteja —, fiz uma descoberta assustadora. Que aquelas pessoas não pensam, eu já sabia. O que descobri foi que elas usam a mesma linguagem fora daquele ambiente. Fui ao banheiro e ouvi um vendedor falando ao celular:
— Olha, se você estiver cansado, não precisa ficar. Mas dê uma passadinha sem compromisso. Vai estar todo mundo lá. Se você quiser, posso falar com o dono da festa e reservar um convite, mas você precisa chegar cedo...
Senti pena dessas pessoas e fiquei imaginando o Nunes, vendedor profissional, em sua triste vida, misturando as linguagens das tantas lojas e setores em que trabalhou. Da concessionária de automóveis, levou algumas frases para a loja de sucos:
— Olha, o senhor precisa provar esse suco de goiaba. Tá novinho, novinho. Ele nunca foi oferecido pra outra pessoa. A goiaba veio de frete de Petrópolis, chegou agorinha mesmo. O senhor deu sorte. Eu não tava nem querendo oferecer esse suco, pensei em ficar com ele pra mim, mas o senhor é gente boa e eu percebi que tava querendo um suco bom, de qualidade, um suco sem problema, um suco de garagem...
Coitado, às vezes escorregava e misturava tudo. Uma vez, logo após deixar aquela loja de roupas num shopping, foi parar numa Pet Shop:
— Esse gatinho tá lindo mesmo. Tá saindo muito. A senhora não quer experimentar um? Isso, coloque assim no colo.. Perfeito! Olha, ficou muito bem na senhora. Parece até que foi feito sob encomenda. Uma graça. A senhora fica realmente muito bem de gato.
Mas o pior aconteceu em casa, com a esposa e os filhos. De tanto tratá-los como clientes, um dia, após uma tentativa frustrada de convencê-los a ficar em casa em vez de ir para o jantar de Natal na sogra, acabou ouvindo da mulher a seguinte resposta:
— Pode ser, vou pensar. Eu vou dar uma voltinha, para pesquisar um pouco, mas já, já estou de volta...
Ela nunca mais apareceu.
6 Comments:
Genial!
Ismael (http://omalfazejo.blogspot.com)
adorei
Muito bom!
Tem muito vendedor nas salas de aula também:
www.escolasempartido.org
Genial!
http://gotoheaven.com.br
Coitado do Nunes. Pense que se os vendedores são assim, pior os clientes que caem no papo deles, pode crer, fui vendedora por um mês(saí para entrar no BB). Sabe o mais legal de ter trabalhado em loja, e de vestuário masculino? Aprendi muito sobre tecidos. Até sobre isso oferecem cursos. Sei lá.. cultura inútil? pode ser....
Ah.... nem contei, tirei 100 na redação do Enem (isso tem muito a ver com as aulas, so posso agradecer).
Beijos
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lolikneri havaqatsu
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