setembro 23, 2004

Ladrãozinho!

No sinal da rua Humaitá que serve a quem queira seguir para a Lagoa pelos lados de Ipanema, há uns meninos, muito apropriadamente chamados de meninos do sinal. Um se destaca. Acho que se chama Cláudio e é conhecido como Júnior. Mas isso eu não posso assegurar; nunca lhe perguntei. O que sei é que sempre dou um real a ele.

Ele se oferece para limpar o vidro do carro. Pelo material utilizado, não creio que Júnior consiga fazê-lo de fato. Em todo caso, ele oferece. E deve funcionar, pelo menos nos fins de semana, quando está por ali. Nos outros dias, parece que trabalha em uma padaria no subúrbio. Mas essa é só uma impressão que eu tive.

Dou a ele um real. Ele nunca lavou o vidro do meu carro; também não posso dizer que dê esse dinheiro por pena. Estou anestesiado demais para isso e quando sinto pena me dou vários beliscões. O fato é que o Júnior sempre me leva um real. E em nota, que vale mais, porque sai da carteira, não é apenas um troquinho em moedas jogado no cinzeiro.

Esse Júnior é um grande manipulador. Fiquem atentos. Ele é de uma desonestidade rara. Quase não fala, oferece seu serviço sem muita convicção, mas quando nos olha através do vidro do carro abre um sorriso irresistível. Misto de alegria momentânea e simpatia eterna, o sorriso de Júnior nos leva um real. Não chega a ser grande coisa, numa tarde cansada, mas que é desonesto, isso lá é.